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Mostrando postagens de dezembro, 2011

Hino do amor divino

Por Matheus Monteiro Meu Senhor, amo-te e sou culpado por não te amar mais Sou cativo, eu que pensei ser livre Sou tolo, eu que me achava sábio Roubaste-me o coração, tentei em vão tomá-lo de volta. Não é possível fugir de quem amamos, Não é possível destruir o que é indestrutível, Semeaste em mim a plenitude do amor e só agora sou livre verdadeiramente. Explodindo-me na angústia de querer vê-lo, Ansiando com meu coração ardente que me veja, Chorando minhas culpas para perdoar-me, Prostrando-me, anulando-me, consumindo-me. Nada no mundo pode compreender o amor que sentimos, amor sentido por aquilo que é eterno, como um mergulho livre e infinito no mistério, águas voantes, ventos incandescentes, que brotam como flor do meu peito.

Matthias Grünewald e a "Crucifixão"

"Crucifixão", de Matthias Grünewald (1510 - 1515) Gostaria apenas de partilhar esta imagem da Paixão de Nosso Senhor. À direita vemos São João Batista apontando Jesus crucificado. Entre sua mão e sua cabeça está escrito em latim: "É necessário que Ele cresça, porém que eu diminua" - frase que o Batista disse, segundo a narração de São João, Apóstolo e Evangelista. Sob a mão indicadora de São João Batista, vemos o cordeiro abraçando uma cruz e jorrando sangue dentro do cálice. Esta é uma alusão clara ao sacrifício de Nosso Senhor,  Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo  e sua expressão sacramental na Santa Missa.  Porém, o mais impressionante desta pintura é a retratação da dor feita por Grünewald. As mãos retorcidas de Cristo é um detalhe impactante, pois expressam um intenso sofrimento. O rosto abatido de Jesus transparece a serenidade, mas também a exaustão após sofrer tantos suplícios. Gombrich, em seu livro "História da Arte", chega a

É triste quem possui inimigos

Por Matheus Monteiro É triste quem possui inimigos, Limitado ao espaço da sua tolerância. Insuportável é o ar de quem vê E briga, sem saber por quê. Quereria eu não ter inimigos, Para ser livre e não me ocupar em ter O receio que meu egoísmo sublima Para me cegar e, enfim, não compreender. Ouve o som que, no vento, ressoa, Da liberdade amor, do perdão você, A voz doce de uma donzela a chorar Pelo sentimento que jamais vai ter. Ó, meu serafim, consuma-me em chorar Sem derramar lágrima nem sofrer. Nesta contradição rompa meu olhar E me faça, então, simplesmente ser. Sendo, buscar a vida. Vivendo, perdoar e crer.

Quando assistir televisão é um vício

A televisão e os seus conteúdos são ficções. Dizem que eles servem de entretenimento, mas, para uma alma carente, acabam por ser um entorpecente. Cativam dessa pessoa o tempo e as forças, esgotando-os enquanto o espectador se mantém sentado e atento a uma vida virtual. Aquele que assiste televisão por muito tempo, deixa de viver para contemplar vidas fictícias alheias, gasta suas forças com a preguiça, rende-se irrefletidamente ao discurso televisivo. É fato que, assistindo algo, posiciona-se como espectador. Olha, nota os detalhes, fica à disposição de acolher algum bem ou alguma verdade, recebe discursos e imagens, seguindo o ritmo ditado pela transmissão. Isso toma tempo, mas, principalmente, a vida. Sentado com os olhos atentos ao que aparece na tela. abre mão de agir, desbravar a realidade e, como diz São Paulo, combater o bom combate. Nas atrações da televisão está a tentativa de imitar a vida, porém oferecendo o conforto de não expor seus expectadores aos riscos de ferir-se

Lira do amor romântico

Atirei um limão n'água e fiquei vendo na margem. Os peixinhos responderam: Quem tem amor tem coragem. Atirei um limão n'água  e caiu enviesado. Ouvi um peixe dizer: Melhor é o beijo roubado. Atirei um limão n'água, Como faço todo ano. Senti que os peixes diziam: Todo amor vive de engano. Atirei um limão n'água, Como um vidro de perfume. Em coro os peixes disseram: Joga fora teu ciúme. Atirei um limão n'água, mas perdi a direção. Os peixes, rindo, notaram: Quando dói uma paixão! Atirei um limão n'água, ele afundou um barquinho. Não se espantaram os peixes: Faltava-me o teu carinho. Atirei um limão n'água, o rio logo amargou. Os peixinhos repetiram: É dor de quem muito amou. Atirei um limão n'água, o rio ficou vermelho e cada peixinho viu meu coração num espelho. Atirei um limão n'água, mas depois me arrependi. Cada peixinho assustado me lembra o que já sofri.

Sobre a perda

Andava distraído pelo brilho da alegria de que gozávamos na companhia um do outro. De repente, a luz desapareceu, escondendo os teus sorrisos dos meus. Restou-me o escuro vazio no peito e a agitação do olhar, procurando-te aqui e em todo lugar. Afinal, havia te perdido e o mais doloroso é que me lembrava da última vez que te vi, muito bem. Triste cina esta de nos restar a ausência daquilo que amamos e subsistir apenas a lembrança do que um dia nos rasgou a pele, forçando-nos a sair do casulo e viver como nós mesmos. Teu lume se pôs atrás do último suspiro e tua alma, agora livre, voa dançante de volta para casa. É verdade que os olhos desta carne não tornarão a te ver, mas creio que, como nos sonhos, tê-los-ei fechados enquanto, não obstante, contemplo-te novamente os encantos. Mas, não, como miragens criadas durante meus delírios, mas, sim, como aquele teu mistério imortal que sempre amei e que agora repousa no paraíso. Por Matheus Monteiro

Correio de amigos é doçura

Por Carlos Drummond de Andrade (em "Amar se aprende amando") O correio de amigos é doçura que eu cultivo de forma negativa. As cartas vão chegando, e uma festiva sensação de amizade mais se apura. Mas eis que, ao responder, a tentativa de exprimir esse gosto se afigura empenho vão, pois que toda a finura do sentimento escapa à letra viva. Joaquim - Francisco, ideal correspondente que ao belo Van de Velde acrescentaste a mensagem posta mais excelente. Perdoa a quem confessa (pois não mente): o que a pena emudece por desgaste, no coração floresce plenamente.

Ensaio sobre a natureza

Apresento abaixo parte do texto que estou escrevendo sobre natureza. Trata-se dos parágrafos iniciais. Optei por publicar o texto por partes, na medida em que vou o amadurecendo.  Falando sobre natureza, alguns sugerem tratar-se do conjunto dos animais e plantas, enquanto outros simplificam dizendo que isso é o mesmo que mato, floresta e congêneres. Os mais esotéricos a confundem com a noção nebulosa de força, chamando-a de "tudo" ou, mais familiarmente, de "mãe". É verdade que, considerando o corte de cabelo e as vestimentas de alguns, nota-se a semelhança entre  a  progenitora e suas crias. Por outro lado, alguns modernos revestidos da aura do livre pensamento, pretendendo pensar qualquer coisa sobre qualquer coisa, optam por nada pensar sobre o assunto. Outros de mesmo lume julgam tolice pensar em algo como natural, assumido que tudo ou quase tudo é ficção humana. Outros modernos apaixonam-se romanticamente pela natureza e aspiram reencontrá-la na sua brut

Os poemas

Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam vôo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhado espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti... Mário Quintana (Esconderijos do tempo)

Velhas árvores

Todo instante em eternidade

Por Matheus Monteiro A vida emana como fonte morna a bondade interna. Do oculto, escondido dos olhos alheios, libélulas, Voantes, coloridas, esperanças aladas nas procelas. A essência, corda vibrante da alma eterna, Chama quente e boa, a cada instante desabrochando as pétalas, É o que sou, é o que sinto, é o que me atomiza em parcelas. Gosto tanto e tanto... quero-as mais deveras.