Meses de janeiro e fevereiro e
sentimos intensamente o que significa verão no país: calor, muito calor. Pomos
os ventiladores para funcionar na velocidade máxima, senão para aumentar a
sensação de frescor na pele, então para carregar aquele ar quente para outro
canto do universo. Os mais remediados festejam o conforto do ar-condicionado,
enquanto fazem segredo a respeito do amargor que preveem para a próxima conta
de luz. Os banhos se multiplicam e, em raro acontecimento, a água gelada
abandona o status de vilã que pega de
surpresa para adquirir o de heroína que salva o dia. Aquela que, nos tempos
indiferentes, serve de despertador para os embriagados é promovida a remédio
doce e suave dos sóbrios desorientados pelo sol. Em muito tempo ela é bem-vinda
e muito desejada.
Há
quem não possa contar com esses luxos e valha-se do que está à mão: não diria
um leque, mas a capa duma revista, um pedaço de papelão, o calendário do ano
passado. Quem sabe? Talvez seja a única ocasião em que alguém possa fantasiar
ser um sultão ou uma rainha, reclinado liberalmente em almofadas e rodeado por
servos com abanadores emplumados e refrescos exóticos. Pessoalmente, quando
penso em almofadas, plumas e aglomeração de pessoas, sinto mais calor.
À
noite, quando o sono do espírito imaterial fica brigando com o desconforto do
corpo suado, chega a ser tentador substituir a cama e os lençóis por uma câmara
hiperbárica ou entrar nos cursos desses sábios orientais que sabem desligar
provisoriamente os nervos da pele para pisar em brasas com os pés nus. Porém,
se não dão resultados as estratégias da infância (encostar na parede, virar o
travesseiro, pôr o colchão no chão, ficar imóvel), sempre é possível recorrer
ao banho gelado (não falei? Um doce remédio), arrumar uma desculpa qualquer
para abrir a geladeira – e ficar lá parado enquanto puder e ainda parecer
desculpável -, ou num ato desesperado deixar as janelas abertas, sentir o toque
suave da madrugada e gritar nos pensamentos: “Desisto! Ladrões, se quiserem
tentar me roubar, não ligo mais. Mas se roubarem e depois forem à praia, não
deixem de me levar junto”.
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