Apresento abaixo parte do texto que estou escrevendo sobre natureza. Trata-se dos parágrafos iniciais. Optei por publicar o texto por partes, na medida em que vou o amadurecendo.
Falando sobre natureza, alguns sugerem tratar-se do conjunto dos animais e plantas, enquanto outros simplificam dizendo que isso é o mesmo que mato, floresta e congêneres. Os mais esotéricos a confundem com a noção nebulosa de força, chamando-a de "tudo" ou, mais familiarmente, de "mãe". É verdade que, considerando o corte de cabelo e as vestimentas de alguns, nota-se a semelhança entre a progenitora e suas crias.
Por outro lado, alguns modernos revestidos da aura do livre pensamento, pretendendo pensar qualquer coisa sobre qualquer coisa, optam por nada pensar sobre o assunto. Outros de mesmo lume julgam tolice pensar em algo como natural, assumido que tudo ou quase tudo é ficção humana. Outros modernos apaixonam-se romanticamente pela natureza e aspiram reencontrá-la na sua bruteza e, assim, abandonar as contaminações do engenho intelectual do homem que reputam como venenoso. Parece-lhes que se o homem fosse um poodle, ele seria mais feliz, mesmo se, então, seus passatempos se resumissem a latir ardentemente, correr atrás do próprio traseiro e perseguir gatos. Dentre esses enamorados incorrigíveis, há os panteístas que pensam tratar-se a natureza da divindade imanente ao mundo e da qual seríamos uma extensão. Estes parecem não se contentar em apenas escrever poemas à amada, mas precisam erigir-lhe um altar de adoração.
Outros sapientes, porém descrentes da deidade natural, não se ocupam longamente em definir o que seja natureza, mas não se intimidam de tomar-lhe como objeto das suas experimentações, teorias e cálculos. Podem não saber o que é, mas creem saber como ela se comporta. Pena que o mesmo não podemos fazer com nossos políticos. Sabemos o que são, mas sempre somos surpreendidos pelas suas falcatruas.
Por outro lado, alguns modernos revestidos da aura do livre pensamento, pretendendo pensar qualquer coisa sobre qualquer coisa, optam por nada pensar sobre o assunto. Outros de mesmo lume julgam tolice pensar em algo como natural, assumido que tudo ou quase tudo é ficção humana. Outros modernos apaixonam-se romanticamente pela natureza e aspiram reencontrá-la na sua bruteza e, assim, abandonar as contaminações do engenho intelectual do homem que reputam como venenoso. Parece-lhes que se o homem fosse um poodle, ele seria mais feliz, mesmo se, então, seus passatempos se resumissem a latir ardentemente, correr atrás do próprio traseiro e perseguir gatos. Dentre esses enamorados incorrigíveis, há os panteístas que pensam tratar-se a natureza da divindade imanente ao mundo e da qual seríamos uma extensão. Estes parecem não se contentar em apenas escrever poemas à amada, mas precisam erigir-lhe um altar de adoração.
Outros sapientes, porém descrentes da deidade natural, não se ocupam longamente em definir o que seja natureza, mas não se intimidam de tomar-lhe como objeto das suas experimentações, teorias e cálculos. Podem não saber o que é, mas creem saber como ela se comporta. Pena que o mesmo não podemos fazer com nossos políticos. Sabemos o que são, mas sempre somos surpreendidos pelas suas falcatruas.
Apesar dos muitos modos atuais de falar da natureza, um em particular perdeu espaço e merece atenção: o jeito de falar próprio do senso comum. Acontece de ele aparecer timidamente, num debate feito aqui e ali.
Quando achamos que recobrará sua dignidade tradicional, eis que é silenciado pela liberdade de expressão dos esclarecidos. Fato é que, lamentavelmente, essa noção só aparece nos debates polêmicos, como, por exemplo, sobre o aborto, sobre a eutanásia ou sobre a homossexualidade.
Quando achamos que recobrará sua dignidade tradicional, eis que é silenciado pela liberdade de expressão dos esclarecidos. Fato é que, lamentavelmente, essa noção só aparece nos debates polêmicos, como, por exemplo, sobre o aborto, sobre a eutanásia ou sobre a homossexualidade.
Costumamos dizer, a fim de explicar porque agimos deste ou daquele modo, frases do tipo: "É da natureza do homem". Por mais que alguns céticos acenem as mãos com desdém reputando essas expressões como mera retórica, fato é que o senso comum reconhece a existência duma tal natureza, que é responsável por fazer de nós humanos e que nos impele a agir em busca dos bens, mais concretos ou mais ideais, que devem realizar quem somos.
Observando um pássaro, notamos facilmente que suas principais ações são voar e cantar. Nossa falta de sensibilidade talvez nos impeça de perceber a alegria com que as aves executam suas performances aéreas, ou suas apresentações musicais, porém somos bastante capazes de saber que, se lhes privássemos dessas práticas, diminuiríamos sua vitalidade. Quem já teve um canário dentro duma gaiola sabe como faz diferença mantê-lo num espaço minúsculo e depois soltá-lo num grande viveiro. Mesmo podendo arriscar pequenos voos e entoar timidamente suas composições, ele não reluta em riscar os ares com manobras ousadas e folgadas ou em encher seu peito e, com garbo, emular a apresentação de um tenor. Pior faríamos se, ao invés de uma gaiola, aprisionássemos a pobre criatura num aquário. Certamente não esperamos que, nessa condição, sequer sobreviva. Indagando a razão disso, concluímos sem rodeios que pássaros não são como os peixes, que nadam e respiram debaixo da água, mas são filhos do ar e dele precisam para viver e se entreter. Dizemos mais ousadamente que é da natureza do pássaro voar e cantar, de maneira que ele enche-se do ar e o rege magistralmente para fazer o que o define e o realiza como pássaro. E quanto mais voa e quanto mais canta, mais vivo está e mais pássaro ele é. Confinando-o à gaiola, impedimos sua expansão. Pondo-o no aquário, desafiamos o que ele é e ferimos sua natureza, subtraindo-lhe no limite a própria vida.
Alguém mais próximo da pálida iluminação dos modernos pode dizer que o problema das aves estaria resolvido se elas fizessem uma rebelião armada contra a opressão humana e investissem na ciência genética para desenvolverem guelras. Mas, se assim procedessem, não seriam mais pássaros, mas uma esquadrilha de kamikasis anfíbios, cuja bizarrice só seria comparável a de seres que, podendo conhecer a realidade e refletir sobre suas ações, optam por ignorar (senão duvidar) da verdade e agir mecanicamente em resposta aos estímulos do estômago e da pele.
Comentários
Postar um comentário